PRINCÍPIO DE UM LIVRO POR FAZER

Vão é o combate que travo comigo mesmo porque sempre serei eu o vencido, e só a lembrança do paraíso perdido me faz erguer de novo para continuar a lutar por uma nova derrota. Espero e não espero enquanto o meu futuro derrota sempre o meu passado. Em verdade, sou prisioneiro de um passado que perdi e já não posso ter e de um futuro que nunca terei. Permanece em mim a criança com os pés nus sobre a terra. Esse mundo de árvores, de poços e de pássaros, de bois e de erva, de videiras e de mosto, de flores e de estrume, de carros com rodas de metal rangendo sobre as ruas, de noras e infinitos passos em volta, de mãos e de frutos, de alegria na sombra permanente do perigo, era, para mim, o paraíso perdido, embora um mundo de andrajos e doenças, de fugas noturnas e mortes precoces, de coisas que não passavam e onde nada se passava, de guerras longínquas mas sempre perto de nós, de discursos ridículos e febris, aerogramas e pobres mensagens de saudad...