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A mostrar mensagens de abril, 2021

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 Não há verdades universais, nem nas ciências exatas nem na mais exata das ciências. Há, tão só, verdades que aproximam os factos mais ou menos das abstrações que deveriam impor-se a todos os homens: liberdade, igualdade, fraternidade; sabedoria, força, beleza; honra, justiça, progresso. Estamos, por isso, condenados a falhar. Falhamos mas voltamos a tentar com a convicção de que voltaremos a falhar, agora, talvez, com menos erros. Escalamos a montanha para a descer de novo e voltar a subir para falhar novamente o desígnio de atingir o cume. Tentamos enganar a Morte, aprisionando-a com uma coleira em volta do pescoço. Conseguimos isso por momentos. Mas é apenas uma ilusão dentro dessa ilusão universal que é o tempo, porque, na verdade, não há tempo mas apenas passos que nos nossos sonhos são tempo, os passos de Sísifo até que Hades dele liberte a Morte. Precisamos de um guia que nos ilumine os passos, porque tudo é misterioso, os nossos pés e o caminho, e o caminho um jogo cheio de...

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Diluo-me nas personagens dos livros que li mais do que nos seus autores. E na mesma obra sou várias personagens, muitas vezes contraditórias, porque em todos os modos de ser há uma razão para ser isso, uma razão que os próprios seres quase sempre ignoram, ou muitas razões ou, até, nenhuma razão mas apenas um acaso, ou razões e acasos que tantas vezes são a mesma coisa. Nunca me imaginei  a ser advogado, eu advogado usando para sobreviver as  regras que regem as vidas sensatas, fazendo-o com displicente dedicação ou agressiva e ridícula paixão. E, no entanto, sou-o fazendo de mim personagem inesperada da minha própria vida, uma personagem que escreve e ao escrever se nega. Diria que a minha vida concreta é o contrário da vida dos escritores, para quem a abstração é a vida concreta, pois, em mim, a vida concreta tomou conta da abstração que é o meu mundo, desafiando constantemente a realidade em que me encontro mergulhado sem saída. Há, porém, algo de comum entre advogados e esc...

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Não sou apenas um ser. Sou seres em viagem, moldado pelas infinitas formas do mundo que me causam outras sedes de ser. Ouço o lamento do mar e a prudência dos faróis, e sou mar e farol desfazendo o meu ser na areia. Vejo a suave dança do trigo com a aragem e sou o pão verde dos campos na Primavera. Ouço o rumor do vento na floresta e sou as árvores que lá estão e a sábia coruja que nelas faz o ninho e cria amorosamente os seus filhotes. A minha alma é todas as árvores da floresta onde ecoa o canto do bode que nela anda a excitar as mulheres nas suas danças loucas, cabeça e dorso inclinados para trás, ventre lançado para a frente oferecendo o seu sexo ao volumoso sexo do deus da embriaguês. Então elas são lobas com sede do seu ser, lobas com fome da carne dos homens, ávidas do desejo de os despedaçarem e devorarem o seu sexo.  Sagradas e sacrílegas elas dançam a dança da vida e da fúria da vida fazendo ressoar no ventre venerável da terra os tambores do mistério, engrinaldadas com a...

14 de Junho de 2009

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Continuei a leitura de Harold Bloom - Onde Está a Sabedoria . Capítulo em que se refere a Nietzsche e Emerson. O individualista autor de  Confiança em Si  é um pensador profundamente preocupado com o futuro do homem, e a sua obra pode resumir-se no aforismo, O HOMEM É O FUTURO DO HOMEM. Olhar para a floresta só faz sentido se tivermos sempre em vista a árvore. E a árvore de Emerson é uma árvore sagrada. Escreveu o sábio americano: O homem é um Deus em ruínas.  E ainda: O homem é um anão de si mesmo. Eu acrescentaria a frase de Nietzsche: O homem é a ruína de Deus. Deus alimenta-se do homem antes do Homem como a morte se alimenta da doença. Como bom americano, Emerson era essencialmente terreno e um prático -fujo a utilizar a palavra utilitarista porque ele nunca quis fazer filosofia. Sabendo  que seria na América um marginal não escutado se anunciasse a ruína de Deus, para evitar falar da ruína de Deus falou da participação do homem na Divindade. Nietzsche, que era u...