PRINCÍPIO DE UM LIVRO POR FAZER

Era a minha vez de entrar na sacristia. Acabava de sair o Zé Marreta a sorrir e a dizer-me vai-te perguntar se tocas o bicho. Não consegui rir-me porque ia pela primeira vez à confissão e isso era para mim um ato tão grave que abafava qualquer riso. A sacristia era grande ( eram tão pequenos os meus olhos de criança com medo que, para eles, era grande a pequena sacristia da capela da minha aldeia). Em frente da porta de entrada, sobre uma cómoda de madeira escura, estava uma estátua de S. Sebastião ladeada por dois castiçais de lata. O santo erguia-se ao longo do tronco de uma árvore, com os pés atados a esse tronco e os braços atados aos tocos de dois ramos secos, decepados, dessa árvore sem folhas, o braço esquerdo atado de modo a permanecer erguido e o braço direito descaído e atado junto à anca, A cabeça e o peito estavam levemente inclinados para trás, em pose artística, e o rosto exibia uma sensação de dor, na qual, um olhar mais atento poderia descobrir uma sensação de prazer. T...