
Chegou o outono. As primeiras chuvas após um longo estio. As folhas caem com calma abandonando a vida, ou com violência fustigadas pelo vento que começou a erguer-se todas as manhãs. As pessoas começam a inclinar-se como que movidas por uma bebedeira triste, aceitando também a sua condição de árvores. Já vindimei, já esmaguei as uvas, já afundei o bagaço no vinho durante sete dias, três vezes ao dia, já passei o vinho para as cubas e, agora, é o tempo de ele repousar. Outrora, quando existia a aldeia e a aldeia existia em mim, e tudo era nítido, tanto o orvalho das manhãs como as estrelas da noite, quando, ao fim da tarde, os bois pacientes regressavam a casa, eu via o lume transformado em fumo a sair pelas chaminés. O fumo era claro e melancólico como as vidas que se iam perdendo. Hoje, esforço-me por regressar à terra, mas este meu esforço é contra a minha verdade, pois eu já não sou o mesmo que era quando ainda criança, e tocava os bois para casa, e me deitava na terra a sonha...