O GRITO DE GAZA

Querem aniquilar-te os véus do Terceiro Templo

E as cortinas traidoras do Cairo

Gaza de entranhas abertas

Gaza de veias que gritam

Deitando sangue em golfadas

Gaza com estrondos maiores que cataclismos

Lançando crianças aos céus.


A terra treme

Desabam os montes das tuas casas

Estão abertas as sepulturas da Palestina

No céu negro de fumo

No céu vermelho

No céu sem fundo.


Israel sabe como ninguém

Abrir covas nos salões da terra

Abrir covas nos salões do céu

Para a Dança da Morte

Entre a música dos estrondos

Entre a música sem fuga

Porque da garganta profunda do seu Deus

Sai o clamor da vingança

Porque o seu Deus condenou ao anátema

Os homens e as mulheres

Os velhos e as crianças

Os bois as cabras e os jumentos

E por ordem do seu Deus

Sobre todos 

Israel lançará o sal da Morte

Sobre todos rugirá o ódio

Da sua metralha.


Debaixo dos escombros jaz um corpo

Pelo céu voa uma cabeça

Cujos olhos ainda imploram

E cairá sobre a cúpula dourada da mesquita

Como um pedaço de pão com fome.


Sem fim são os dias

Infinitas são as noites

Como a Morte

Quando as granadas rebentam

Dentro das palavras.


As estradas atulhadas de escombros

E as bocas cheias de gritos

Conduzem a vida de Gaza

Para uma viagem ao fim da noite.


Levados pelo impulso do sexo sem piedade

Levados pelo impulso da Morte

Os filhos de Israel querem

Alcançar a paz no Abismo.


HENRIQUE DÓRIA











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