A MINHA VARANDA

Debruço-me na minha varanda e, embora sentindo-me em casa, sinto que o meu corpo está ali prestes a partir. Dizendo de outro modo: sinto-me ao mesmo tempo na casa e no mundo. Um passo em frente e estarei no jardim das plantas. Um passo à esquerda e estarei na Praça da Vitória, onde, sobre uma coluna vertiginosa moldada em granito, o leão vence a águia vingando as crianças e as mães que, prestes a afogarem-se no rio pelo desabar das barcas, gritam através do bronze. Volto-me para a direita e sinto-me viajando através do mar, ao lado dos navios e dos veleiros que, como eu, se dirigem para o horizonte azul onde vagueiam as aves, breves nuvens brancas junto ao velo de ouro que uma mão segura sobre a cabeça de uma mulher suavemente inclinada para a esquerda, uma mulher que canta nua de costas voltadas para quem, como eu, a deseja. No mar há uma larga avenida negra ladeada por árvores flamejantes, e eu caminho sobre ela mas não consigo sair do mesmo lugar, sempre distante dessa mulher lumino...