NÃO HÁ ESPAÇO MAS APENAS TEMPO

Não há espaço mas apenas tempo E o homem e Deus são só o alimento De milhões de anos. Coça as tuas chagas Job Lamenta os teus filhos mortos Por um capricho de Deus Por uma disputa insane Entre o Nada e o Nada Chora de mãos postas Na muralha do Nada As tuas mãos vastas como a noite. Prepara a tua vingança Faz dos teus inimigos apenas ossos Do tempo Reveste a muralha com o sangue Dos guerreiros e das crianças Porque frente à face de Yavé Transformam-se os céus em cinza Derretem-se as cadeias de montanhas E a terra é tornada uma fornalha. Mas há de virar-se a ampulheta E o homem será então areia E Deus chorará a sua perda Sobre o Monte Sião Deus chorar-Se-á a Si mesmo Tremendo pelo Juízo Final Porque sem o homem O tempo O há de julgar O tempo O transformará também Em alimento do Nada. HENRIQUE DÓRIA