O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO
(CENA II)
A cena decorre numa sala triangular em que o vértice menor do triângulo isósceles está junto à frente da mesa presidencial. No centro do triângulo, a cabeça do leão da Metro Golden Mayer. A cadeira do presidente tem uma águia dourada erguida, de asas alargadas. No lugar do corpo da águia há uma zona esventrada, oval, com fundo vermelho, onde se encontra o assento. Essa zona tem dois metros de altura para que o presidente se possa erguer dentro dela. As pernas da frente da cadeira são douradas e têm a forma das patas da águia. Os braços da cadeira são também dourados, com os focinhos do leão da MGM nas extremidades. Por detrás da águia, e a tapar a janela de cinco metros de altura e três de largura, uma cortina branca com bandas laterais vermelhas. Sanefa vermelha com recortes semicirculares.
Nas paredes, ao lado das cortinas, estão dois grandes retratos: um do primeiro presidente, de frágeis cabelos brancos a caírem-lhe nos ombros, gibão negro, camisa rendilhada, rosto redondo, avermelhado, nariz vincadamente adunco; do lado oposto, está um retrato do atual presidente.
A secretária de trabalho é de madeira de acácia, cor de cereja escura, com a frente e as laterais bem trabalhadas. De cada uma das faces laterais de secretária estão duas cadeiras, simples, com braços, madeira e cor igual à secretária presidencial, assentos estofados de vermelho.
Mais atrás, dois grandes sofás de veludo vermelho, com uma pequena mesa retangular entre eles.
O presidente é alto, cara vermelhusca, cabelos brancos, com duas folhas de palmeira douradas, imperiais, na fronte. Usa fato azul escuro e camisa azul claro, sem gravata.
Uma grande aranha de Louise Bourgeois está situa entre os dois sofás e a secretária do Presidente, de modo a quem quem se chegar junto à secretária presidencial tem de passa debaixo da aranha. Conforme os que se encontram com o Presidente a aranha vai tendo diferentes expressões. Quando o Presidente e Beatriz, a sua secretária, fazem sexo, a aranha ergue uma pata e masturba-se.
Está sentado a despachar com o general comandante-chefe que se encontra também sentado numa das cadeiras laterais. O general está equipado com um camuflado de guerra e usa na cabeça um capacete de bronze, de formato idêntico ao de um general espartano, com grande crista vermelha que se prolonga como rabo de cavalo estreitando até meio das costas.
Na outra cadeira lateral está sentada a secretária particular do presidente, que aparenta vinte anos. Usa vestido negro de onde ressalta um bom par de mamas. O vestido mal tapa as cuecas. As pernas bem torneadas têm meias negras, rendilhadas, com pequenos losangos. O cabelo negro, comprido, ondulado. Olhos esverdeados, lábios sensuais pintados da cor da sanefa. Está descalça e com as pernas traçadas.
- PRESIDENTE: Tem sido uma semana esgotante. O mundo está a ficar de pernas para o alto e, agora, parece pregado a uma roda giratória para por tudo doido. Já estão relutantes em escutar os nossos bons conselhos. Enganam-se bem. Andam a jogar a roleta russa, mas vamos ensinar-lhes que manda quem pode e obedece quem deve.
-GENERAL: Senhor presidente, a paciência faz-nos parecer fracos. Essa escumalha tem de saber quem manda. O nosso glorioso Exército não suporta mais o pântano e os tanques estão a enferrujar. Na Marinha, sempre triunfante, os marujos já pensam que a vida é ir de porto em porto, desembarcar, apanhar umas bebedeiras e foder com muitas putas. Na Força Aérea os aviões parecem pássaros cansados. Já faltam armazéns para o material de guerra que está a ganhar teias de aranha. As fábricas estão a diminuir o ritmo de produção. Os nossos beneméritos empresários avisam que começam a ter dificuldades em financiar a próxima campanha eleitoral. Tem de haver uma guerra para por na ordem os governos ignorantes e fortalecer o corpo e a vontade dos nossos invencíveis soldados.
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