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A mostrar mensagens de maio, 2022

O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO

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CENA I    Dois anões  que se dedicam à nobre tarefa de arrumadores de carros, um de cabeça redonda outro de cabeça cúbica, discutem pela demarcação do seu espaço vital na mesma rua e acabam por se envolver em pancadaria. São incentivados à luta pelo dono do Porsche cuja gorjeta ambos disputavam, e por mirones que se juntaram para presenciarem a discussão e a luta. Só uma mulher tenta apaziguá-los, ao mesmo tempo que invetiva todos os que incentivam a zaragata - (Mirones simulando o coro da tragédia grega)   Não ter armes em santa, menina apaziguadora. A vida é uma luta de anões. Todos somos anões sobre a terra. O que eles fizeram foi com que nos víssemos ao espelho e ríssemos da nossa insignificância e bravata. O grotesco deles está também dentro de nós. Aqueles anões golpeando-se exibiram também o nosso grotesco. Somos seres que se atiram  à luta ignorando que sempre hão de perder mesmo ganhando, ignorando a sua insignificância. Seres ridículos fazendo-se incap...

CAMINHO SOBRE AS FERIDAS DE OUTONO

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Caminho sobre as feridas de Outono Sou um faquir saboreando espadas E cuspindo labaredas contra O negro do céu. E tudo parece em vão E não foi. Tudo parece vento contra As colunas  E os capitéis decepados Que o vento gosta de escarnecer. Nada lhe resiste Ao ar flagelando o mar Nem ao sentimento do tempo. Fúrias fundas Fogos fátuos Flácidas flores de Outono Que caem como cascatas Sobre a liberdade tantas vezes esmagada Não ouvi o amor Que ria à sombra das raparigas Sobre o orvalho do Verão Não bebi as luminosas águas fendidas Ao fundo´ Onde nadavam peixes nus À semelhança de príncipes. Apagam-se agora os espelhos Da Primavera Vai-se fechando a janela do peito À alegria Vai me retirando à vida  Um Deus castrado. E tenho vontade de dormir Dormir dentro duma ânfora Sonhando com a estrada perdida Que nunca mais voltará. HENRIQUE DÓRIA  

O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO

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 (CENA II) A cena decorre numa sala triangular em que o vértice menor do triângulo isósceles está junto à frente da mesa presidencial. No centro do triângulo, a cabeça do leão da Metro Golden Mayer. A cadeira do presidente tem uma águia dourada  erguida, de asas alargadas. No lugar do corpo  da águia há uma zona esventrada, oval, com fundo vermelho, onde se encontra o assento. Essa zona  tem dois metros de altura para que o presidente se possa erguer dentro dela. As pernas da frente da cadeira são douradas e têm a forma das patas da águia. Os braços da cadeira são também dourados, com os focinhos do leão  da MGM nas extremidades. Por detrás da águia, e a tapar a janela de cinco metros de altura e três de largura, uma cortina branca com bandas laterais vermelhas. Sanefa vermelha com recortes semicirculares. Nas paredes, ao lado das cortinas, estão dois grandes retratos: um do primeiro presidente, de frágeis cabelos brancos a caírem-lhe nos ombros, gibão negro, ca...