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 O cristianismo faz dos homens simples funcionários de Deus, e dos religiosos os seus superiores hierárquicos. Nenhuma diferença entre o imperador romano que se fazia venerar como deus e o Deus dos cristãos que se faz venerar como imperador. A vida e a morte estavam nas mãos de ambos. A salvação, no cristianismo mais profundo, o de Calvino ou de Pascal, é um ato arbitrário de Deus no dia do juízo final, como a vida e a morte eram um ato arbitrário do imperador no Coliseu de Roma.

O que nos diz Agostinho de Hipona é que não são os nossos atos que nos salvam, mas a insondável graça de Deus. Agostinho, o santo, não logrou compreender a maldade dessa crença. Por que momentos terríveis estaria ele a passar para que essa insoldável maldade fosse a maior manifestação do poder de Deus por ele tão exaltada? Roma estava a desmoronar-se. O imperador já não detinha o poder de decidir da vida ou da morte dos homens. Os homens que assaltavam Roma eram apenas bárbaros e homens que colocavam o imperador, outrora deus, a sucumbir,  como frágil humano, às suas hordas. O mundo em decomposição precisava de outro imperador, já não terreno, mas celeste, que não se mostrasse aos homens para que eles não vissem a sua fragilidade mas acreditassem no seu infinito poder, um Deus tão poderoso que a vida eterna do homem, do rei ao mendigo, essa ingénua aspiração dos homens, estava no seu absoluto arbítrio.

Os tempos de inclemência são tempos em que até a maldade se torna divina.



Comentários

  1. Incrivelmente, até os dias de hoje, grande parte da humanidade ainda continua escrava da crença em um ser superior, divino a nos controlar com cordéis invisíveis, deixando-nos à sorte de seus humores, tanto para o bem como para ruína.

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  2. Esse Deus é Jeová,não o Deus de Amor.

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