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 Para quê a sabedoria se ela não nos dá a felicidade? Com a sabedoria vamos moldando o nosso interior calcário, mas isso só nos traz angústia porque a obra nunca estará concluída e o que foi moldado angustia-nos pela imperfeição. Com a sabedoria ficamos sempre aquém de nós e do azul que sonhamos porque ela nos impele a sonhar mais. Sentimentos e desejos, esperanças e medos passados projetam-se num futuro incerto de que não sabemos o princípio mas temos a certeza do fim. Com a sabedoria vencemos o tédio cotidiano, mas caímos noutro tédio ainda mais profundo que é a consciência da morte. Com ela não nos preparamos para a morte, apenas a ela nos vamos habituando e ela nos vai cansando.

Depois de a ciência nos dizer que, não só o homem mas também o sol e as outras estrelas, os buracos negros, as nebulosas e até os átomos com o que dentro deles se move hão de morrer, depois disso, buscar a sabedoria é navegar num oceano de bagatelas espirituais.

Não seria mais sensato e útil fazermos esquecer a morte pelo prazer? Mas também o prazer nos causa tédio pela habituação e pelo cansaço. E os homens hão de preferir sempre o sofrimento ao tédio, pois que o sofrimento os aproxima da vida e o tédio os aproxima da morte.