NLD

Sou  uma criança que se tornou adulto demasiado cedo mas que, adulto, continuou a ser criança. Este meu sorriso fácil. Este acreditar nas palavras, e ainda mais nas palavras dos outros, este acreditar que o Fado não me há de vencer, que a morte é longínqua e talvez não seja morte, este acreditar que no mundo haverá sempre uma aldeia, e na aldeia uma casa, e na casa um quarto, e no quarto um coração peregrino, faz de mim uma eterna criança.

Um dia, abri na terra uma cova e lá plantei as minhas mãos. A terra era branca como este papel em que escrevo. Envolvi as mãos em húmus. Reguei-as ao nascer do sol, esperando que delas nascessem orquídeas brancas e vermelhas. 

Mas era descuidada a minha esperança, como são descuidadas todas as crianças. Separavam-se os dias e eu sem dar por isso. Mas, no fundo de mim mesmo continuava à espera que, da cova outrora aberta, nascessem orquídeas brancas e vermelhas, sem alguma vez pensar que, quando elas rompessem a terra em direção ao sol, eu seria apenas um condenado à morte.



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