NLD

 Sou uma sucessão de fracassos. Mas tento, e tento sempre de cada vez que fracasso. Por que tento sempre sabendo antecipadamente do meu fracasso? Para me conhecer através do caminho? Para me conhecer através das pedras? Para me tornar indiferente ao abismo final? 

Para quê este inútil gasto de energia? Fracassado deveria abdicar, refugiar-me na sabedoria oriental, na tentação do vazio ou ser aquele místico que não acredita em nada, nem em si mesmo. Talvez assim me tornasse santo. Mas nunca consegui anular em mim a vontade ou o desejo. Acredito na necessidade e nas pedras que o acaso lança ao longo do caminho. Chego a desejá-las, a amá-las, porque sou um sentimental que vive em contradição. Não quero a vida leve e tranquila, mas repugnam-me os altares da vitória, e vejo neles uma ridícula ilusão com que os espíritos fracos tentam enganar-se e aos outros, escondendo que nada são, nada serão. Sinto desprezo e tédio pela vaidade daqueles que esfregam o umbigo de si mesmos e não menos desprezo e tédio pelos sensatos e os púdicos.

Amo, acima de tudo, o fracasso e a anarquia, e encontro no fracasso que destrói toda a vaidade a minha sabedoria, a minha libertação.




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