NLD
Minha mãe sempre me disse, num tom entre o amor e a pena, que eu sou uma boa pessoa. Entendi as suas palavras como um presságio de que o ser boa pessoa haveria de perder-me. Quando me meti na política ( e eu sempre estive metido na política) um amigo condescendente disse-me que eu era demasiado boa pessoa para me meter na política. Percebi que estava a dizer-me que eu era apenas um idiota, mas neguei essa evidência a mim mesmo porque sabia que ele era meu amigo, e continuei a insistir no que entendia como o cumprimento de um dever. Perdi como estava previsto, mas todos os adversários me felicitaram na derrota porque eu me comportara como boa pessoa.
As boas pessoas são ótimos derrotados: estão sempre predispostos a aceitar que os outros vêm neles apenas boas pessoas. Recusam-se a acreditar no veneno e olham com indulgência as suas misérias e os seu fracassos.
E, contudo, vejo em mim o mais astucioso dos vaidosos: aquele que se compraz em que os outros vejam nele uma boa alma, um bom cartaz para a humanidade.
No julgamento que faço de mim mesmo, apenas encontro uma circunstância atenuante: sou isento de arrivismo.
Comentários
Enviar um comentário