NLD

Talvez nunca o vinho nos conduza tanto à paixão como no crepúsculo do Outono. Passei o dia de ontem, sábado, a engarrafar vinho. O seu odor preencheu-me por dentro. A sua cor manchou as minhas mãos de negro, estas máscaras camponesas que ainda me permito tingir de verdade.

Beber vinho é amar a terra, é esquecer que não há Paraíso nem Inferno, que o hoje é só um dia que passa e o amanhã uma ilusão. Amar o vinho é amar a hora, beber serenamente a sua brevidade, ignorar as humilhações de ontem e o vazio de amanhã.

Dorme a meu lado gata depois de uns momentos de ternura enquanto eu bebo o meu vinho e penso nas rosas de Outono sem desespero ou esperança. Podes dormir bem porque ignoras a dor dos outros que eu gostaria de ignorar mas que o vinho me recorda como me recorda o luminoso som do sorriso de certa mulher.

Taça suave, o teu vinho amargo conduz-me aos doces lábios da bem amada.




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