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Angustia-me o não estar nesse futuro onde haverá buracos de verme  que me poderiam conduzir a um universo paralelo, algo maior que a própria luz, algo próximo da eternidade que é a essência dos deuses, algo que a infinita imaginação dos homens e a mais infinita imaginação dos seres que os homens irão fazer, algo ainda mais subtil que a luz que os próprios homens hão de criar. Este ser eucariota, animalia, eumetazoa,  cordado, vertebrado, mamífero, theria, eutheria, primata, haplorrino,  simiiforme, grande símio, hominídeo, homininae, hominini, hominínio, homo, homo sapiens, homo sapiens sapiens, acabado de aparecer na terra, mal balbucia as primeiras palavras acredita ter esgotado a beleza das palavras, mal constrói os primeiros artefactos acredita ter esgotado a possibilidade de construção de artefactos, esquecendo que, apenas há segundos, os seus artefactos eram tão só pedra lascada.

Esquece que os artefactos que ele criou o criaram também como artefacto, um artefacto capaz e esgotar  a arte e o sofrimento que a arte é. Porque ele é a sua própria contradição, a criação do mundo que ele criou.

Um dia ele deixará de sonhar porque  os próprios sonhos que ele sonhou o hão de sonhar. Então, esse ser que um dia sonhou dobrar o espaço e o tempo através dum buraco de verme se transformará num verme que o próprio tempo irá devorar.



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