NLD
Escrever este livro da minha vida não é mais do que um modo de tornar digno o meu caminho para a morte que tem como última etapa a humilhante velhice, pois a velhice não mais do que a caricatura da vida.
Tinha razão Sócrates quando recusou negar-se a si mesmo para salvar a vida. Ser-lhe-ia fácil evitar a morte pedindo clemência ou fugindo, com o aconselhavam os seus amigos, e Sócrates recusou com dignidade e sabedoria, tanto mais que, tendo setenta anos, estando naquele momento da vida em que se aproximava a degradação do corpo e, por consequência, a degradação da alma, degradação que ele não aceitava existir mas cuja existência ele próprio estava a confirmar preferindo a morte com dignidade da alma à morte da alma degradada pela velhice do corpo.
Escolheu a sua própria salvação ao escolher a morte.
Toda a vida de Sócrates foi uma preparação para morte através da filosofia e, quando a morte chegou por imposição dos homens, ele preferiu-a à outra morte imposta pela natureza.
Assim, a vida de Sócrates valeu a pena pela sua própria morte e, no fundo dos seus olhos, ele alcançou então aquilo que sempre procurou: conhecer-se a si mesmo.
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