NLD
A entrada na adolescência foi para mim a entrada num labirinto onde eu procurava, desesperadamente, Ariane. Mas Ariane nunca chegava com seu novelo de salvação nem eu matava o Minotauro porque o Minotauro estava dentro de mim. Por isso toda a busca era inútil e cada sala uma derrota. E eu derrotava-me a mim mesmo com as minhas próprias armas, a imaginação e o desejo.
A imaginação oferecia-me amantes impossíveis, o desejo oferecia-me amantes possíveis mas que eu não desejava. Amava rainhas abandonadas, as Soraias deste mundo a quem o abandono e a esterilidade fazia mais belas e mais amadas. Amava mulheres que amavam outro e que outro amava e, ainda assim, eu perseverava em amar porque amadas por outro me pareciam belas como a lua, mas também como a lua distantes de mim por amarem outro. Amava também as que amavam outro mas que pelo amado eram ignoradas ou, até, desprezadas, mas que, ainda assim, persistiam nessa humilhante prisão do amor que também a mim persistia em a elas me prender e me humilhar.
Amava perdidamente porque eu estava nos versos de Florbela e os versos de Florbela estavam em mim e eram eu mesmo. E todo eu era sentimento, um ser inferior que ignorava a razão e a razão sempre ignorava.
Então, todas as portas do amor me pareciam fechadas e eu via o meu destino como o do jovem Werther para quem a morte foi o maior , o eterno encontro com a amada que eu não tinha.
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