NLD
167
Não há quatro verdades, mas quatro vezes quarenta e quatro quarenta e quatro vezes. Acreditar que nos libertamos conhecendo as quatro verdades e percorrendo os oito caminhos é infantil e ilusório. Se o sofrimento é uma verdade, a alegria também o é. Caminhamos sempre entre a dor e a alegria, duas retas paralelas que, tantas vezes, se encontram. O desejo é o caminho para ambas. Anular o desejo, arrastar a vida aceitando-a sem desejo é, ainda assim, outro desejo que só se persegue com vontade, uma vontade como qualquer outra vontade, até a vontade de poder.
As quatro verdades e os oito caminhos são simples para os que acreditam que há outras verdades e outros caminhos para além da morte. Mas a morte não tem caminhos, nem veredas, nem verdades.
Eu sigo a minha verdade, a verdade que vou escolhendo e a que penso que vou escolhendo mas que outros vão escolhendo por mim, ou, nem sequer os outros, mas apenas o acaso vai escolhendo acompanhado pelo erro. Não sigo qualquer disciplina porque em toda a disciplina há o acaso e o erro. Por isso duvido da minha verdade e só me sinto mais próximo dela quando nela encontro a verdade do outro.
168
Os Judeus choram a destruição do Templo e, no entanto, eles só existem como povo porque o seu Templo foi destruído. O Templo nunca os libertou da veneração de outros deuses além do seu. Mas foram a destruição do Templo e o cativeiro da Babilónia que tornaram essa raça conflituosa e volúvel que, frequentemente, abandonava o seu Deus pelos deuses dos outros e, pouco depois, cobria a cabeça de cinza e rasgava as suas vestes para, de novo, ser aceite pelo seu Deus.
Longe de Israel e de Judá, destruído o Templo, os Hebreus temiam e sentiam o seu Deus dentro das sinagogas, onde a palavra que ressoava na voz do sacerdote, sob as abóbadas, lhes fazia recordar a voz tonitruante dirigida a Moisés do alto do Monte Sinai.
Era a voz do castigo e do perdão, do amor e do ódio, do bem e do mal que estavam por todo o Universo mas de que o seu Deus era o centro, o criador e o senhor.
É infantil a crença no Deus de um povo, como é infantil qualquer crença em Deus. Mas a palavra criava o sentimento da Sua presença dentro da sinagoga e envolvia o povo que a escutava e se sentia, com essa presença, eleito.
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