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A mostrar mensagens de agosto, 2021

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 172 "Se queres ir de Roma a Jerusalém, segue para sul e pergunta ao longo do caminho". Era este o conselho que o GUIA DO PEREGRINO a Santiago de Compostela dava aos fiéis. É assim que tenho caminhado ao longo da minha vida. Sei o ponto de partida, sei o lugar de destino. O resto vou perguntando ao longo do caminho: à terra, às estrelas, aos montes, às veredas, às esquinas e ao vento que nelas fala. Esqueço-me sempre de perguntar a mim mesmo porque sempre me encontro a olhar para os caminhos que se bifurcam e sei, à partida, que hei de escolher aquele que é o caminho dos outros. E poderia ser de outro modo para quem, como eu, sente maior pena dos outros que de si mesmo?    

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 167 Não há quatro verdades, mas quatro vezes quarenta e quatro quarenta e quatro vezes. Acreditar que nos libertamos conhecendo as quatro verdades e percorrendo os oito caminhos é infantil e ilusório. Se o sofrimento é uma verdade, a alegria também o é. Caminhamos sempre entre a dor e a alegria, duas retas paralelas que, tantas vezes, se encontram. O desejo é o caminho para ambas. Anular o desejo, arrastar a vida aceitando-a sem desejo é, ainda assim, outro desejo que só se persegue com vontade, uma vontade como qualquer outra vontade, até a vontade de poder. As quatro verdades e os oito caminhos são simples para os que acreditam que há outras verdades e outros caminhos para além da morte. Mas a morte não tem caminhos, nem veredas, nem verdades. Eu sigo a minha verdade,  a verdade que vou escolhendo e a que penso que vou escolhendo mas que outros vão escolhendo por mim, ou, nem sequer os outros, mas apenas o acaso vai escolhendo acompanhado pelo erro. Não sigo qualquer discip...

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 Sou, em verdade, um ser digno de pena, porque são dignos de pena os seres dominados pelo coração. Mas eu mais ainda porque o meu coração é um pêndulo incerto que perturba os que me rodeiam e me perturba a mim ainda mais. Quero e não quero, gosto e não gosto, desejo e não desejo com inclinações que, subitamente, mudam porque saltei da lembrança de uma palavra para outra palavra, de um gesto para outro, de uma cor para outra, de um som para outro, da imagem de alguém em que, num momento, confiei e me fez feliz para a imagem de outro momento em que duvidei e a dúvida me fez infeliz. Memórias que eu pensava estarem perdidas regressam apenas porque são contrárias a outras memórias. A palavra idade, por exemplo, faz-me sofrer, não porque sinta o temor do tempo que avança sobre mim para, lentamente, me sufocar, mas porque um dia menti sobre a minha idade e alguém importante na minha vida me mentiu sobre a sua idade. A cor amarela tão rara numa rosa traz para junto de mim uma mulher que n...

O TEU VESTIDO

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 O teu vestido balança e dobra-se Tocado pela flor do vento. Dentro dele só a tua memória Porque um dia o teu vestido se dobrou Sob o narciso negro. HENRIQUE DÓRIA