NLD
Começou cedo, para mim, o sofrimento de não amar porque o amor era o sentido da vida, e o sentido da vida era o sentido do corpo mas esse estava muito longe do meu desejo. Depois, quando o amor parecia ter chegado, já não poderia acreditar nele, e continuei a sofrer por não acreditar que, alguma vez, poderia ser amado. Então, não só a vida mas o próprio sofrimento se tornou um hábito de que não podia livrar-me, como não podia livrar-me da vida, essa admirável inutilidade que, desde criança, me tinha feito sentir pequeno e humilhado perante o mundo, enquanto que, confrontando-me comigo mesmo, me sentia grande e arrogante.
Esta fratura que havia dentro de mim poderia ter-me levado a que me refugiasse no sonho absoluto ou na absoluta autodestruição, que acabam por ser o mesmo.
Salvaram-me as minhas raízes camponesas que sempre me mantiveram ligado à terra mesmo quando sonhava, mesmo quando fazia e não pensava, mesmo quando pensava fazer sem pensar.
A prudência é uma arte em que nunca consegui penetrar. Mas não me perdi porque todo o camponês sabe onde acaba a terra e começa o mar do naufrágio.
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