NLD
No meu futuro erguem-se séculos, muralhas da China que os bárbaros do norte querem conquistar. Mais do que o passado que vivi, o futuro que não irei viver está em mim obsessivamente presente. Amo os homens que hão de vir por não serem o meu presente e, porque hão de vir, serão melhores que os que agora vivem. Vejo-os belos de corpo e alma porque só os vejo no meu pensamento e penso que o meu pensamento é o seu corpo e a sua alma.
As mulheres do ano dez mil terão beleza e juventude eternas, numa terra onde viverão num lugar mais alto e mais ameno do que o velho Shangri-la. No passado, há homens cobertos de armaduras e mulheres que vemos apenas com uma face, como nos frescos fúnebres dos egípcios, porque a outra face foi devorada pela sombra.
O passado é um jogo de sombras saídas do Nada que não existe. O futuro irá existir e há de rir-se de todos os esforços presentes dos homens para abandonarem a terra.
No futuro só haverá homens artificiais porque serão os homens a criarem-se a eles mesmos, e o seu sopro será o sopro de Deus, e as suas máquinas a metafísica que há de vir. As palavras substituirão os gritos de terror e dor, palavras com um centro negro e oito pétalas em volta verdes e perfeitas que hão de destruir os poderes, as hierarquias e os preconceitos que serão enterrados debaixo da lava cultivada.
Por isso amo o futuro que não sei, porque o que sei está infeliz e cansado.
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