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Encontro-me com a amada no centro da floresta. A floresta é o lugar onde nos sentimos mais sós porque é o lugar onde todos os caminhos se encontram para os esquecermos e só nos lembrarmos de nós. Nela encontramos o nosso próprio caminho, o meu em ti e o teu em mim. Eu e tu estamos agora no centro da floresta. Amamo-nos sem nos desejarmos, dormimos sobre as ervas da Primavera e as folhas de Outono com uma espada a separar-nos impedindo todo o desejo. Separados na noite pela espada, estamos unidos no resplandecente amor. Olho-te e tudo é contemplação, volúpia de não te possuir quando estás só sob as minhas pálpebras.

Amamos amar e, por isso, não se unem os nossos corpos porque todo o amor fica em nós na alma até ao esquecimento do corpo. Estamos juntos mas tão longe, perdidos no labirinto das árvores. Amo-te sem te conhecer e, assim, conheço-me desconhecendo-te, e alcanço através da tua a minha verdade. O nosso amor é o desespero de lobos e lobas uivando loucamente à lua de ouro, a conversação devagarosa das árvores estendendo-se através das raízes pela noite dentro, o pio da coruja voando vertiginosamente entre os troncos do tempo.

Na floresta, meu amor, estaremos perdidos do mundo e o mundo perdido de nós para que nos encontremos. Tudo no mundo deseja e nos deseja: por isso empreendemos a fuga por amarmos amar. Não é isso a felicidade, mas é o destino que escolhemos porque elegemos a alma, a luz que cintila nas folhagens, a luz do alheamento, a luz da noite, a luz em que negamos a carne.

Quando de ti estava longe, mais te amava e mais sofria. Agora, junto de ti continuo a sofrer, não o sofrimento da distância, mas o sofrimento desta paixão de amar sempre mais, porque amar demais ainda não é amar bastante. Aspiro a ser Deus porque aspiro a ser Nada perdido de amor em ti. Não ouso desejar-te de tanto ser este amor.

Perdidos, encontramo-nos no nosso castelo interior. Aqui, na noite obscura da floresta, eu sou tu e tu és eu sob as estrelas felizes e longe do corpo cansado do mundo.



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