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Fui vivendo o desejo de viver sempre movido pelo sonho e pelo acaso. Sonhava e vivia e, ao viver, o acaso fazia viver em mim sonhos diferentes dos que antes imaginara sonhar, e esses sonhos moviam a minha vida para nunca a alcançar.

Viver os sonhos e para além dos sonhos, ser sonhado pelas sensações era o meu destino que o acaso tudo fazia para não ser destino. Quis amar e o amor chegou com o acaso e o engano. Acasos e desenganos foram sempre a minha condição. Às vezes, enganos e acasos logravam ser felizes.

Nunca parei para fazer para meu uso um manual de instruções. Para mim, isso seria uma tarefa inútil, pois sempre vivi contra todas as instruções, mesmo aquelas que eu tinha sonhado para mim mesmo. Por isso, umas vezes sentia pena, outras remorsos dos meus sonhos e da inutilidade que lhes dera. Outras ainda, sentia saudades de os ter sonhado.

Caos era o que eu vivia ao formar-me a mim mesmo, e os meus sonhos moviam-se sobre esse caos e o seu abismo. Em mim nunca houve desertos, mas todos os desejos, todas as possibilidades, todos os sonhos, sobretudo os mais absurdos. O caos era a minha reserva de sonhos num terra cercada onde eu estava sempre só e, de cada vez que tentava ordenar os sonhos e a vida, criava outro caos. Mas o caos dos meus sonhos e da minha vida moviam-se sempre através do sonho dos sonhos que era o sentido do dever. Porém, o meu sentido do dever era sempre sem paciência nem perseverança, pelo que só poderia conduzir-me ao fracasso.



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