O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO
Contento-me em ser pequeno porque sou grande. E o que é ser grande? É perceber a morte que há em tudo, em nós e no que nos é exterior, e no exterior do exterior, e dentro de tudo o que é interior e exterior, e dentro do que está dentro.
Sou um pequeno camponês ao longe, breve como as árvores que por nós passam e nós sentimos que passamos por elas. Como ninguém, o camponês sabe que tudo é ilusão. Por isso assenta os pés na terra, a única realidade sólida a que se poderá agarrar porque ela o irá agarrar. A terra é a sua alma e a sua alma é a terra. E a sua alma está em todos os lugares da terra porque não pertence a lugar nenhum.
Vejo-me, ao longe, de pé a contemplar-me criança no meu berço. Vejo-me ao entardecer quando soam as trindades. Mas as trindades não são as trindades porque embarquei num comboio que me levou para longe de mim mesmo, para muito longe. Ficou na gare a minha imagem inclinada frente a uma mulher também inclinada e que a natureza diz que me irá devorar. Fiquei eu saltando do cimo da carruagem para um lugar desconhecido, dentro dum poço de luz. E foi o meu sonho que saltou em mim porque quis ficar, porque quis dar à terra o que é da terra, porque o meu lugar na terra é maior que o universo, porque todo o universo é ilusão.
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