NLD

 O nacionalismo não é hoje mais do que roupa velha num homem que começa a surgir  como novo. Mais do que nunca, percebe-se agora que é uma mentira da história, construção dos poderes e não alma dos povos. A alma dos povos é a Pátria, a língua dos pais, mais ainda do que a terra dos pais. A terra dos homens é hoje todo o mundo. Por isso, quem ama os homens só pode ser homem de todo o mundo.

Vejo-me tão patriota como internacionalista. Patriota porque, como dizia o mago da Rua dos Douradores, a minha Pátria é a língua portuguesa, com o seu mar e os seus montes e o cheiro de ambos, com o barro e o vinho que me correm no sangue, com os seus alimentos que em nenhuma outra parte do mundo têm este sabor porque se alimentam de nós, a Pátria portuguesa com as suas festas e a sua Páscoa que não é passagem entre dois mares mas permanência do amor terrestre que um mito celeste consagrou.

Como acredito que não existe Deus e que Cristo foi um terno mestre secreto dum convento junto ao Mar Morto, amo a Páscoa como a Pátria, com o senhor padre vestido de negro e os seus acólitos com opas vermelhas, e a cruz que eles me dão a beijar que é a cruz de todos os homens porque a todos os homens é dada a cruz da morte que é deles e dos que os amam, e a sua água perfumada que os senhor prior esparge sobre as crianças e os adultos que a seguir se irão abraçar em cada casa, a Páscoa com os seus bolos de ovos e as suas oferendas porque na Páscoa todos têm esperança numa terra fértil e fraterna.

A minha língua grávida de vogais abertas, sim, é a minha Pátria que aspira a um governo do mundo que conserve todas as Pátrias como a Páscoa da minha aldeia. 



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