IMPRECAÇÕES DE JOB (fragmento)


...

 Não há um só coração no céu

Mas voragem

Acompanhada de cantos selvagens

Louvando o devorador do tempo

O que lançou escamas sobre as minha pernas

E estigmas sobre as minha mãos

Enquanto soletrava com escárnio o meu nome

Para que de mim rissem as Plêiades

Em todas as regiões da terra

Me desprezasse Orion

Com a sua gigante vermelha

E o seu quadrilátero louco

Com as suas imprecações em transe estelar.

Os anjos e as harpas louvam-te

Com os bardos bêbados

Dizendo poemas selvagens

É inaudita a força das cordas 

Das suas bocas

O arrebatamento das suas brasas.

Eles não vacilam em louvores

Mesmo quando vêm as pústulas

Do mundo

Os seus coros erguem-se mais

Altos que o firmamento

Mais vertiginosos que relâmpagos encarnados

Mas eu homem que hás de desfazer em pó

Não me submeto ao fel das tuas veias

Ainda que a águia eterna me debique o peito

Ainda que não mais alcance 

A água do suplício

Nem faça repousar a rocha 

Na montanha maldita

Não hei de reprimir o meu grito

Perante o céu inclinado

Até que o não suportes mais

Na tua louca morada.


HENRIQUE DÓRIA



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