O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO

    Quero controlar os meus pensamentos mas, tantas vezes, não o consigo. Ontem, quando caminhava pela rua olhando as folhas de Outono que mudavam de cor em direção à queda, o pensamento desviou-se para uma mulher desconhecida, que vi uma só vez na vida e nada tinha de diferente de tantas outras mulheres, nem sequer os seios abundantes que sempre atraíram o meu olhar. Ela estava só, deitada na praia e, subitamente, levantou-se, penteou os cabelos longos e bastos, negros  e fortes como penas de corvo e, depois, caminhou vagarosamente em direção o mar para se lançar às ondas.

    Admirei-me por me surgir esta lembrança tão remota e sem sinais que me pudessem marcar. Sorri deste absurdo mas, logo a seguir, veio-me à memória o nome de Maldini, nome que já não ouço há largos anos e nunca me impressionou mais do que tantos outros futebolistas famosos, e nem sequer estava entre os que melhor conhecia.

    Sou e não sou responsável pelos meus pensamentos. A quem atribuir a culpa daqueles que não chamei a mim e são cruéis ou baixos, mas surgiram no meu cérebro contra a minha vontade?

    Sou senhor dos meus pensamentos mas eles são, também, senhores de mim. Sou livre e dominado pelo que não desejo ou repudio. 

    Sonho enquanto durmo, sonho quando estou acordado. E o sonho sonha-me. Eis uma das sete fontes do meu desassossego.



Comentários

  1. Se todo desassossego viesse ao contemplar uma bela mulher! Que bom seria! Há uns bem piores, conforme mencionou! Não queremos ou podemos pensar, mas são eles que nos tomam de assalto, de sobressalto! O juízo vai-se embora, o coração entra em taquicardia, o estômago revira! Domina-nos, tira-nos o sono, esses tiranos!
    Que seu desassossego seja sereno e calmo, que lhe embale os sonhos...

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