ENCONTRO-ME
ENCONTRO-ME
a olhar para trás de mim mesmo nestas
palavras que escrevo. Nem aquela mulher antiga que adivinhava o passado através
do futuro construído pelas formas flutuantes do azeite e do vinagre por ela
agitados num prato raso com um ramo ardente de alecrim conseguiria alcançar o
que hoje sou. Mas descobri, eu próprio, que não mais poderei ser o que no
princípio era. Olho para o futuro e vejo nele o meu passado com o seu
contrário. Ele é a luz que fixa a imagem no daguerreotipo, a realidade criada
pela ilusão.
O
que fez com que eu não tivesse a obstinação e a ignorância do camponês, a sua
esperança fundada numa crença sem causa? Foi tudo o que se encontrava fora de
mim que fez de mim o que eu sou, e não pudesse ser o que era. Foram aqueles que pensavam que eu seria alto
e feliz deixando de ser eu e a terra que sou para ser o que eles pensavam que é
ser alto e feliz.
Não
os culpo, embora não saiba se o fizeram por amor ou por uma vaidade
desconhecida e inconsequente. Eles acreditavam que me abriam o caminho para a
felicidade, como se NÃO ser ignorante e obstinado, como se NÃO ter o corpo ligado à
terra fosse contentamento ou felicidade e não fosse tão só o contentamento e a
felicidade das suas almas cansadas do húmus e das árvores onde corria o seu sangue.
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