ENCONTRO-ME

ENCONTRO-ME a olhar para trás de mim mesmo nestas palavras que escrevo. Nem aquela mulher antiga que adivinhava o passado através do futuro construído pelas formas flutuantes do azeite e do vinagre por ela agitados num prato raso com um ramo ardente de alecrim conseguiria alcançar o que hoje sou. Mas descobri, eu próprio, que não mais poderei ser o que no princípio era. Olho para o futuro e vejo nele o meu passado com o seu contrário. Ele é a luz que fixa a imagem no daguerreotipo, a realidade criada pela ilusão. O que fez com que eu não tivesse a obstinação e a ignorância do camponês, a sua esperança fundada numa crença sem causa? Foi tudo o que se encontrava fora de mim que fez de mim o que eu sou, e não pudesse ser o que era. Foram aqueles que pensavam que eu seria alto e feliz deixando de ser eu e a terra que sou para ser o que eles pensavam que é ser alto e feliz. Não os culpo, embora não saiba se o fizeram por amor ou por uma vaidade desconhecida e inconse...