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A mostrar mensagens de julho, 2025

ADIVINHAS

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Esquecer o sofrimento com o vinho ou com a fonte fria? Que vinho poderá inclinar o rosto para a terra ou elevá-lo para o céu? Beber para a esquecimento não será abrir outra ferida para o sofrimento? Há em mim três seres ou três modos de impotência? É quando une o sol e a terra que a coreopsis tem maior beleza? Deitado no escuro do meu quarto interrogo-me sobre as palavras a colocar na cabeceira do meu túmulo: rosa, ninguém, volúpia? A primavera das ervas e o Outono das frutas não estão ambos lado a lado com o Inverno do desespero? Porque semeias sempre e sempre após cada fracasso? Não era de cor púrpura a boca do demónio quando convenceu a mulher a comer a maçã ou a laranja da morte? Haverá também no céu uma árvore do conhecimento do bem e do mal? Morrendo tantas vezes na terra em cada perda ainda haveremos de morrer um derradeira vez no céu? Criados por Deus à sua imagem e semelhança, o Seu sangue é igual ao nosso?

ADIVINHAS

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Quem conduz a minha carruagem, eu ou os boleeiros que me deu o tempo? Um fio de sangue saindo da minha sombra sou eu? Há um espelho dentro do poema ou uma nuvem de crinas revoltadas? Saberão os mortos o que é o amor deslizando pelos seios nus e pela vulva vermelha de uma jovem mulher? Logrará alguma vez o homem descobrir o mistério que há dentro dos olhos do tigre? O sulfuroso e o doloroso incluem-se? Não é a memória uma dor maior do que nós? Podemos dizer que viveu aquele a quem nenhuma mão acariciou o lençol? Em que palavras haverá mais poesia, nas que escrevi ou nas que esqueci? Haverá uma videira da salvação? Não estão a ver-se num só espelho a sabedoria e a dor? No fim de combates impiedosos não serão as feridas sempre maiores que os louros do triunfo?
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  Nunca tive a coragem das naves  Para com elas partir Nem das aves que comigo  Dividiam a terra e o céu O medo e o amor escorriam  Dentro das minhas raízes  Seiva negra e branca  Seiva branca e negra E a seiva conversava com a seiva Conversas noturnas  Conversas diurnas Buracos no cérebro  Constelações girando em volta Estrelas cruéis atacando  As minhas pupilas Perfurando o meu crânio  Com as suas verrumas Gemidos  Cometas perdidos E eu amante sem leito e sem leme Ignorando o meu caminho Amante sem esperança  E sem fé na boda ou no vinho. HENRIQUE DÓRIA