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A mostrar mensagens de setembro, 2024

DENTRO DE MIM ESCOLHI

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Dentro de mim escolhi Ser árvore Porque ela ama como ninguém A mãe terra E o pai céu E sem nunca abandonar a terra Sobe para o pai Como a criatura mais divina Entre as mulheres Porque ela tem o conhecimento Do bem e do mal Porque nela o diabo se tornou serpente E inventou a morte Mas a ela eu subo para colher os frutos As dores  E a vida Tornando-me mais alto dentro de mim mesmo E mais prisioneiro do que amo. Dentro de mim escolhi Ser vento Porque só ele envolve Toda a terra Com amor e furor Porque só ele nos traz As nuvens E a amada água E de inclemente torna o sol Suave Porque num instante sobe aos montes Mais mágicos E percorre os vales com seu Hálito divino E ama as marés com seu  Coração Mal comportado E conversa com a árvore na encosta Como o príncipe E a princesa Da fábula E a toma nos seus vastos braços Como bem amada. Dentro de mim escolhei  Ser tudo Porque tudo é deus e deus É tudo E tudo é vã sabedoria E tudo sou eu E ninguém E tudo é a minha mão cansada De tud...

PRINCÍPIO DE UM LIVRO POR FAZER

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 Há momentos da minha vida em que não me reconheço a mim mesmo e outros em que me vejo com nitidez num passado a que não mais conseguirei regressar. Cedo me levaram da terra de meus pais para fazerem de mim "alguém", como dizia o meu avô. Diziam ser esta a razão da minha levada mas sei, agora, que a verdadeira razão do meu exílio, era outra, e terrível: a morte. Quase todos os dias de Primavera chegava a casa com as calças rotas por subir aos pinheiros para ver e tocar as bolas de penugem dos pequenos milhafres, dos corvos, das pegas e dos pica paus. No Verão lançava-me à água dos poços de rega e subia pelos alcatruzes para voltar a lançar-me ou ia nadar para a preza da Ribeira, sempre louco de liberdade e volúpia.  Deambulava pelos pinhais, esmagava nas mãos o rosmaninho para passar pelas faces o seu perfume, apanhava míscaros, deitava-me sobre o musgo a ver o sol coado entre os ramos dos pinheiros, ia para os ribeiros apanhar peixes com as mãos - as minha mãos eram, então, ...

AS MINHAS PALAVRAS

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As minhas palavras nasceram no deserto Entre a areia e as estrelas  Em tendas esvoaçantes  Que avançaram sobre as dunas Avançaram com o vento solar E a sede Até ao mar poente Fazendo mover as velas Suportando os fogos e as tempestades  Até à celebração das ilhas Em busca da pobre parte Do continente perdido  Do pólen do infinito e do nada Que sou eu mesmo. HENRIQUE DÓRIA