Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2024

INFINITAS SOLIDÕES

Imagem
Infinitas solidões vão da pele à alma A solidão do céu e a solidão do mar A solidão da árvore e a solidão da terra A solidão dos amantes E a solidão das noites prostitutas A solidão dos ladrões noturnos Roubando a solidão dos reis A solidão dos caminhos e a solidão das sombras A solidão da angústia e a solidão das horas A solidão dos tambores e a solidão das varandas  Na solidão do teu olhar de bruma A solidão da lua em volta da sua estrela Procurando a solidão do amor A solidão das campas e a solidão dos nomes A solidão do demónio e a solidão do lume A infinita solidão de Deus Na ainda mais infinita solidão do homem Frente à  impiedosa solidão do espelho. HENRIQUE DÓRIA

CINCO FRAGMENTOS PARA MIM MESMO

Imagem
1 Não sei como me conhecer, muito menos como me explicar. Tenho andado sempre sem rumo, sem saber para onde vou e por onde vou pois sou prisioneiro de mim mesmo porque assumi ser naqueles que amo. 2 A esperança é uma esmola que dou a mim mesmo sabendo que serei, para sempre, pobre. 3 Dizer que não meu é quanto escrevo é uma banalidade que, de tão verdadeira, chega a ser mentira. Devoro quanto recebo dos outros, mas sendo nutrido pelos outros eles transformam-se em mim mesmo numa real transfiguração. 4 Não há sepulturas de deuses e, no entanto, quantos deuses já estão mortos! Um incongruência dos homens, certamente porque hão de sobreviver a todos os deuses.  5 Eva sim, foi livre. Adão apenas se deixou conduzir como qualquer pusilânime que, além de tudo, não teve a coragem de levar o seu desafio até ao fim. HENRIQUE DÓRIA

ENTRE EU E EU MESMO

Imagem
Entre eu e eu mesmo Há uma dor Onde os outros se encontram Com a água da consolação E a abelha hesitando  De flor em flor Até à hora da laceração. HENRIQUE DÓRIA  

TEMPO DIVIDIDO

Imagem
Queria esquecer os meus amores Os que não tive e os que não terei Todos janelas abertas para o mar Todos chamas cadentes A iluminar o nada. Queria lembrar-me do meu amor presente Esse que está tão perto e tão longe O meu amor de águas emendadas Sempre a chamar-me e a desejar-me Implorando que eu esteja sempre ali Que eu seja o seu candeeiro suspenso Iluminando-o para não tropeçar E o seu leito inflamado Onde eu remo para naufragar.  HENRIQUE DÓRIA

APÓS UM SONHO

Imagem
Ah minha aldeia de silêncios E pinhais de vinhas e ladeiras Enlameadas  de uvas de infinito Da infinita paciência dos bois Erguendo águas tristes e cantares Presos entre milhos e beirais Ah minha aldeia que não voltas mais. Ah minha aldeia entre a esmeralda E o mar onde hei de estar Entre o barro bêbado e as sombras Da noite dos amados mortos Só sem luz nem rosa Em busca do nada e de nenhuma coisa.    HENRIQUE DÓRIA