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A mostrar mensagens de outubro, 2022

POEMA XI - O TORMENTO DE DEUS

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Os mortos  não vêm o sangue Dos vivos Nem as suas chagas Ou as suas centelhas Da pele e da alma. Para os mortos os vivos São só O longo frio da noite A carne que se irá desfazer Em sombra Debaixo da erva. Deviam colocar estrelas Nos olhos dos mortos Para que eles vissem os vivos A luz a sair-lhes do corpo Com os corações famintos A luz erguendo-se do cesto E da amassadeira Com a paz e o prodígio O sinal e a maravilha. Eles são a grande escuridão Que não logra encontrar-se Com outros corpos Não procuram as portas Nem entram nem saem Não contemplam o mar pelas janelas Nem a árvore na encosta Nem o cavalo verde na montanha. Não partem nem regressam Esqueceram a seda e o perfume O espelho e a delicadeza E encerram-se nas estações.´ Apenas se encontram na memória E descansam em lugar nenhum. Eles são os véus dos templos Pesados e taciturnos. Deuses estrelas onde estais deuses Que não vindes ao seu encontro Para os ressuscitar? Onde estais deuses que vos alimentais Dos mortos Que roeis a...

A ANGÚSTIA DA INFLUÊNCIA

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Houve um período da minha escrita em que não conseguia libertar-me da influência de RILKE. Foi o período do final dos anos 70, princípio dos anos 80. Desse período é este poema publicado no meu primeiro livro, CÍRCULO DA TERRA, influenciado pelo VII poema do segundo grupo dos SONETOS A ORFEU: NOITE, MÃE AFINAL Noite, mãe afinal das mãos ordenadoras E do grande lume que em nós morre Para nos dar A alegria de então ser: Quem em ti não vê País da dor, pórtico da esperança, As grandes constelações onde brilham Virgem, Leão, Escudo Ardente E longe, exausta quase De a nossa chegada  Esperar tanto, A Alfa do Centauro. Noite Berço da dor, em ti começa  Solitária a ascensão para a alegria. HENRIQUE DÓRIA Neste poema eu quis colocar dois níveis de leitura. Talvez consigam encontrar mais os meus leitores.

ARDE A TERRA

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Arde a terra Ardem as brumas Não sei porquê E ninguém me sabe dizer porquê. Só sei que me penetra O fogo da terra O fogo vertiginoso das vinhas. Cheiro Grito Toco o meu corpo O corpo fugitivo das mulheres O leito pequeno O vento As margens A água da noite nas ânforas. Só não sei porque tudo arde Quando tudo poderia não ser Ser Só O grande vazio. HENRIQUE DÓRIA

AMO UMA MULHER QUE NÃO CONHEÇO

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 Amo uma mulher que não conheço Porque o seu vestido dourado Está em chamas Porque os seus cabelos vermelhos Estão em chamas Porque a sua língua de sangue Está em chamas E os seus olhos são duas chamas negras E a sua voz  uma miríade De violinos azuis Caindo sobre a terra Contra o céu cinzento. Ah mulher de cinta escarlate De mamas da mais faminta Substância  carnívora E um monte de Vénus Sobre a porta do paraíso Por te amar tanto sem te conhecer A cada instante quero morrer contigo. HENRIQUE DÓRIA