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A mostrar mensagens de julho, 2022

PORQUE O MAR É UM DESERTO

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 Porque o mar é um deserto de água E o deserto um mar de areia Em ambos são imensas a estrelas E imenso é o espelho da nossa solidão.  HENRIQUE DÓRIA

DIÁRIO INTERMITENTE

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 Abro, ao acaso, um capítulo do excelente Tolstoi ou Dostoievski , de George Steiner. Salto daí para Berenice , de Racine e, depois, para Anna Akmhatova, Só o Sangue Cheira a Sangue. Recorda Steiner que, nos dramas de Dostoievski, o centro é sempre um assassinato, porque o assassinato, para Dostoievski, é o momento mais dramático que pode viver um Homem. Porém, de modo diferente do genial russo, penso que o cume do drama se alcança não com o assassinato mas com o suicídio. O assassinato pode ser um momento de prazer e, até, de alegria. O suicídio é sempre o cume do desespero humano. É no suicídio que se encontram o maior desespero e a maior coragem, portanto, o mais profundo drama.  Que abismos não percorreu uma alma dentro de si mesma até atingir a inevitabilidade do seu próprio aniquilamento? Quanta força interior não é necessária para que uma alma tenha coragem de dizer a si mesma não mais, alma, não mais!

O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO (II).

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A cena passa-se no dia seguinte. Conduzidos por Beatriz, entram em fila no gabinete presidencial o Grande Rabino de Jerusalém, o Papa, o Patriarca de Constantinopla, o Grande Mufti de Meca, o Rei das Moscas e o Pateta.  O Grande Rabino traz uma boina negra com uma risca dourada em volta; uma casaca também negra, decorada, ao meio, com flores de acácia douradas, que se inicia, como uma árvore, junto ao umbigo e se vai alargando até aos ombros; calças, meias e sapatos negros, com uma das perneiras das calças arregaçada até junto ao joelho. O rosto ostenta um riso trocista sobre a longa barba branca. A seguir, vem o Papa, com uma casula vermelha, palio branco com cruzes vermelhas, meias brancas, sapatos vermelhos; traz preso à cintura a imagem tosca da virgem negra esculpida em lava vulcânica, de cerca de cinquenta centímetros de altura, que o obriga a inclinar-se e apoiar-se numa cruz de prata, fina, cerca da meio metro mais alta do que ele, com um Cristo muito magro pregado numa...

DAMO-NOS BEM

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Damo-nos bem - conversamos com ternura A minha sombra e lua No espelho da água Enquanto coaxam as rãs do cio E ao tanque vêm beber a vida A rola a cabra a égua Com seus corações vibrantes. HENRIQUE DÓRIA

CREPITA NO MEU CÉREBRO O SANGUE

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Crepita no meu cérebro o sangue O meu cântaro de barro sedento Busca a boca cheia de água Porque o meu coração tem raízes Fundas na minha pele O meu coração excitado O meu coração solitário Atrás da matilha Atrás do cio Atrás da sua louca razão de ser- Cão uivando a todas as luas Cão correndo sobre as águas À procura de uma só morada Cão que ainda se interroga Qual destes sou eu Este ou o que ainda procura Sonhar-se? HENRIQUE DÓRIA