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A mostrar mensagens de abril, 2022

POEMA X (extrato)

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  POEMA X (extrato) O sonho matéria do corpo Cabeça de criança animal que corre Abre-se para a eternidade Mas aqui é o império das aves O instante entre O Nada e o Nada. Canta ave do Nada Colibri do instante Segura a lua com as tuas pupilas E o sol com os teus lábios E canta. Anjos demónios Folhas voando ensandecidas. A pá vai revolvendo a terra Vai abrindo valas Vai tapando as entranhas O esmeril vai afiando A lâmina Que irá cortar as asas dos anjos E tudo é insignificante menos a lâmina A pá A mó da água Que tudo move em direção à morte Que tudo mói. Relâmpagos antecipam o estrondo Das nuvens contra as nuvens Tudo túneis Tudo ecos do céu Sem fundo. Águas brancas emendam-se Com águas negras O mar pensávamos que era o mar Miragem nevoeiro ao longe Derrubando velas Ondas ondas ondas Consomem o corpo Tudo é menor dentro do espaço Não há tempo Sequer para a dor Para a linguagem Para a mulher que se ama. ...

A MINHA VIDA

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A minha vida não é só da minha vida É também dos que sofrem a pedra E as silvas da humilhação Desses que nem sei que existem Que são vento - novo ou velho A quem a neve cortou os lábios Mas ainda são capazes de sorrir Entre dois sofrimentos- Desses que vivendo preferiam Estar mortos A beber o leite negro do meio dia Desses que caminham na própria sombra Num qualquer lugar De onde até as árvores partiram Desses que habitam a caverna da dor Sem nunca conhecerem a ave da primavera. Dos seus corações cheios de gritos De sirenes De portas fechadas A minha vida com eles partilha  O fogo - e o grande frio . HENRIQUE DÓRIA

NLD

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  A juventude passou ao meu lado como uma nuvem estranha, uma ilusão a cada dia perdida. Desde cedo me comecei a entregar aos outros e a nada. Sempre fui contradição pura: desejo e abdicação, vento e nó numa corda, sonho e pés nus sobre a terra. Cedo cheguei ao tempo em já não poderia ser apenas eu. Tarde demais agora para regressar ao mar da liberdade onde nunca estive. Perdido que foi o tempo das cerejas, resta a nostalgia e o cansaço. Sinto cansaço de mim mesmo. Tudo em mim não é mais do que uma propagação de círculos como quando sobre um lago se lança uma pedra, círculos que morrem ainda antes que a pedra alcance a água. Tudo em mim é emoção e, por isso, me sinto estrangeiro neste mundo explicado. Se a juventude é uma virtude viril, muito mais doloroso é nunca a ter possuído do que perdê-la Se foi um mistério que se dissipou em mim  sem nunca chegar a sê-lo, resta-me dela a serenidade que ela não dá e um sorriso de perdão pelas loucuras que não tive ou pela coragem que me ...