POEMA X (extrato)

POEMA X (extrato) O sonho matéria do corpo Cabeça de criança animal que corre Abre-se para a eternidade Mas aqui é o império das aves O instante entre O Nada e o Nada. Canta ave do Nada Colibri do instante Segura a lua com as tuas pupilas E o sol com os teus lábios E canta. Anjos demónios Folhas voando ensandecidas. A pá vai revolvendo a terra Vai abrindo valas Vai tapando as entranhas O esmeril vai afiando A lâmina Que irá cortar as asas dos anjos E tudo é insignificante menos a lâmina A pá A mó da água Que tudo move em direção à morte Que tudo mói. Relâmpagos antecipam o estrondo Das nuvens contra as nuvens Tudo túneis Tudo ecos do céu Sem fundo. Águas brancas emendam-se Com águas negras O mar pensávamos que era o mar Miragem nevoeiro ao longe Derrubando velas Ondas ondas ondas Consomem o corpo Tudo é menor dentro do espaço Não há tempo Sequer para a dor Para a linguagem Para a mulher que se ama. ...