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Nada nos deuses é oferenda para os homens. A vida que lhes deram tem o preço da morte, a alegria o preço da tristeza, o riso o preço das lágrimas. Trocam a fortuna pela desgraça, as mansões dos ricos pelos casebres dos pobres, a glória pela humilhação, o nascimento ao amanhecer pela morte ao crepúsculo. Jamais os ricos ou os pobres compreenderão a vontade dos deuses, porque são tão efémeras as suas moradas, ou porque tantas vezes aqueles se atormentam e sofrem e estes se alegram e têm momentos de felicidade. Jamais os deuses hão de compreender a fome e sede de amor dos homens que são a sua grandeza face ao orgulho divino. De tão grandiosos, os deuses estarão sempre distantes dos homens, tal como as estrelas, e é essa distância que os faz incapazes de amar. Eles, os deuses, caminham serenos e altivos sobre a roda do tempo, sem compreenderem que, como os homens, não irão resistir à sua invisível mó.