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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

NO CÉU A VIDA ETERNA CANSA

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Não há mais céu  Porque a vida eterna cansa E por isso não chega A ele a alma Labareda Que o mar engole E o sopro do tempo apaga. O céu é solitário sonho entre Medo e febre Oráculo de fumo Saindo das entranhas Reflexo dos teus olhos azuis Onde repousam as estrelas. O que há é a terra Com as suas dores E as suas colheitas A terra pequena com  Os seus bichos Os dias e os trabalhos A terra com as suas árvores De longas raízes Onde os homens extraem O seu sangue E onde não cantam anjos concordantes. HENRIQUE DÓRIA

O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO

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 Sinto saudades da infância, não da que tive mas da que imagino que tive. Pensar o passado esquecido, rever o que se perdeu de vista, sentir felicidade onde ela não houve e alegria mesmo que a noite fechada no meu quarto não me permitisse ir ao baile e, se fosse, nenhuma mulher bonita aceitaria dançar comigo, não porque eu fosse feio mas porque tinha excesso de imaginação que é o contrário da ação e, para a mulher, o homem da sua imaginação é o homem de ação, e tudo isso não é mais do que a melancolia do que sou envolvendo o vazio de vida do que fui. Há um saxofone na minha vida que me deixa triste e feliz. Triste porque não fui aquele baile, feliz porque ouvi o saxofone, e ninguém de tantos que estiveram no baile o ouviu como eu. Havia luzes de querosene, e risos, e palmas, sussurros de ternura que escondiam o som do saxofone que eu tão bem escutava, porque na noite fechada os meus ouvidos abriam-se e eram do tamanho do mundo.

ENTREI NO ÁTRIO DO TEU CORPO

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Entrei no átrio do teu corpo E logo saí para voltar A entrar - é uma magia Para a felicidade e o Conhecimento Como magia é o teu corpo De cristal E tão inundado de luz Que dentro dele Posso ver o interior de mim mesmo. HENRIQUE DÓRIA

NAS HÉLICES DOS TEUS SEIOS

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Nas hélices dos teus seios Eu voo avião louco E nas estrelas Com que me debato No azul do teu corpo Todo céu todo mar Onde semeio o sonho. Henrique Dória

O NOVO LIVRO DO DESASSOSSEGO

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Pediu, um dia, Dionisos a um mineiro habituado a escavar o ouro nos lugares mais profundos da terra que lhe ensinasse o caminho para o Hades. Aceitou o mineiro mas, em troca, Dionisos teria de lhe ensinar o caminho do amor, o que o deus também aceitou. Desceu Dionisos ao Hades e, quando regressou à superfície da terra, esperava-o o mineiro para conhecer o caminho do amor. Conhecedor como ninguém dos mistérios do amor, ensinou-lhe Dionisos não um só mas os inúmeros caminhos do amor. Começou o mineiro a percorrê-los, mal sabendo que nos caminhos do amor se haveria de perder, porque os caminhos do amor são os caminhos do corpo e os caminhos da alma, a totalidade do homem na sua infinita diversidade e desilusão. O amor parecia chamá-lo no corpo de uma mulher de enormes olhos negros e de uma elegância fabulosa. Ela lançava a suas pernas a  envolver-lhe o pescoço - nunca sabia se para o puxar para o seu sexo se para o estrangular. Mas nada disso acontecia, e ela erguia-se de súbito e com...