SER COM A ÁGUIA

Ser com a águia - a sombra Das suas asas que cobre Um e outro lado da montanha. Ser com o lobo - a própria pele É a sua veste Na noite das neves uivantes. Ser com a serpente comendo O pó da terra de olhos voltados Para a ave que treme. Ser com a salamandra ardendo No Verão em chama Fria até à espinha até à mentira. Ser com a baleia o seu apelo E o seu lamento Em língua desconhecida. Ser com a árvore que sobe da terra Com as sua ausência de memória E de remorsos. Ser com a rosa exibindo Na nudez solar Todo o seu esplendor. Ser com o homem que cobre de roupagens Os seus abismos Ricas roupagens com remendos e fendas Por onde sai o nada E a sua verdade. HENRIQUE DÓRIA