NLD
A minha adolescência e a minha juventude passaram-se como uma febre que se prolonga no tempo, uma doença de corpo e alma agravada por um ambiente sufocante e a convicção de nada ser. Só conseguia dialogar comigo mesmo e não com o mundo que me parecia hostil porque queria que eu fosse como todo o mundo. A minha timidez paralisava a minha palavra, os outros falavam para mim uma linguagem desconhecida, e isso fazia com que a minha fala fosse deslizando em círculos sobre si mesma. Chegado à idade mais sofrida, os meus vinte anos, vi-me retirante da terra a que pertencia, dentro da noite da floresta dos caminhos que era obrigado a percorrer, sem bússola nem marcos miliários para me guiarem. Passei então a pertencer aos outros, isto é, a estar sempre só. Entre os onze e os treze anos eu mergulhara na Bíblia e vislumbrava a vida como uma questão metafísica. Depois, subitamente, entendi que Deus era uma metáfora para a morte, e passei a considerar a existência como uma questão...