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A mostrar mensagens de dezembro, 2024

ESTRELA FIEL ESTRELA

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Vem até mim fiel estrela Minha asa de anjo Dos primeiros dias. De ti perdido Por séculos e séculos vagueei Pela floresta Onde estavam apagados Todos os caminhos Onde só havia a luz dispersa Entre árvores e desejos. Tentando desenhar a esperança Ávido entre a mão e a rosa Esquecido de mim Esquecido do negro das pupilas Suspenso entre a noite e as estrelas Vagueei de ti perdido Mas sem nunca te esquecer Agora clamo  Entre a névoa e a laceração Vem até mim fiel estrela. HENRIQUE DÓRIA

NOITE ESTRELADA

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Há incêndios na noite azul E furacões envolventes Querendo seduzir   A serena aldeia adormecida. Mas furacões e incêndios Não acordam nem causam medos Nem angústias Ao camponês que no dia seguinte Vai retirar da seara as ervas daninhas Nem à criança que não quer acordar Com a alvorada. Nos seus sonhos eles sabem Que o pináculo da igreja E o cipreste negro Tão alto como as estrelas Acalmarão no céu todas as catástrofes. HENRIQUE DÓRIA

TEMOS UMA SÓ SAÍDA

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Temos uma só saída E essa ainda incerta O passado é quando muito Uma lembrança Às vezes um desejo O presente escoa-se Mais do que a água tumultuosa Entre as mãos trémulas O futuro ainda não é Ou é quando muito Uma incerteza Manchada pela sombra Que nos aguarda Pairando sobre uma fenda Aberta no seio da terra Onde irão murchar as rosas. Havendo uma só saída Por quê torturares-te Com uma única certeza? HENRRIQUE DÓRIA

DIÁRIO INTERMITENTE

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 10 de Dezembro  Confinado a casa, por gripe, passei quase todo o dia a ler o romance de JOÃO TORDO, "O bom Inverno". Comecei-o com um entusiasmo que se foi perdendo a pouco e pouco. Nada mais entediante que o escritor falar do escritor. A escrita é uma alternativa à vida e, embora o escritor tenha vida, a sua vida move-se em torno da escrita, isto é, dum simulacro de vida. É de outra vida, a dos outros, que ele deve falar-nos, mesmo sabendo nós que o faz sempre através de si mesmo. HENRIQUE DÓRIA 

SEGUEM-ME

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 Seguem-me para onde quer que vá As árvores da minha aldeia Andam à minha procura Que as abandonei as sagradas As solenes as sábias  Que abraçaram a minha infância Seguem-me Porque apesar da fuga Elas sabem Que hoje sou só A ternura das árvores. HENRIQUE DÓRIA

FRAGMENTO

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 Sou um ser terrestre. Meu alimento, o húmus. Minha irmã, a árvore. A terra é mulher. O arado que a sulca, o sexo do homem. A fecundidade está na união de ambos sob o olhar compassivo do sol e das estrelas. HENRIQUE DÓRIA

AS MINHAS PALAVRAS

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  As minhas palavras não falam Das minhas palavras Falam de mim de ti do outro  Do mundo vibrante e sombrio Do lume breve.   Percorro caminhos paralelos Que se encontram E encontros que se separam Porque pode ser virtude A separação E melancólico o encontro.   Procuro entender algo  Dentro do caos E encontrar a pequena luz Entre as vielas da noite.   Por ela guiada  Os contornos embora imprecisos Do teu corpo ao longe Ainda os sente O suave vento dos meus lábios  Que por ele deslizam. HENRIQUE DÓRIA

PÉTALAS

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Pétalas sépalas púrpura Levam para ti A ternura silenciosa. Tão breves tão perenes Feitos pétalas Voemos para qualquer lugar Onde sejamos flores desconhecidas. HENRIQUE DÓRIA

NUM INSTANTE

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Num instante tudo regressou O teu rosto outros rostos Um espelho aquele espelho  Abandonado Uma luz outras luzes Uma árvore que sabia falar-me As pequenas águas  Os seus olhos e as suas margens A fuga dos peixes  Frente às mãos nuas O salto desde o muro do poço  Pequenas aves capturadas O negro perspicaz dos corvos Oh! será talvez a morte! HENRIQUE DÓRIA